domingo, 11 de setembro de 2011

Trecho da entrevista da Magda Soares para o programa Um Salto para o Futuro da TV Brasil

Salto – Como podemos conceituar letramento?
Magda Soares – Aqui, nesta exposição, nós estamos rodeados de atividades de letramento. São crianças que estão em fase de alfabetização, temos aqui trabalhos de crianças desde a creche até o segundo, terceiro ano, no novo modelo, considerando este o terceiro ano das crianças que entraram aos seis anos. São crianças em processo de alfabetização, de apropriação do sistema alfabético e ortográfico de escrita, mas elas estão se apropriando disso no contexto de letramento, lendo livros de literatura infantil, e a partir daí a professora trabalha alfabetização. Elas estão escrevendo em situações reais criadas pela professora, não é uma situação falsa. A literatura dá um apoio muito forte a esse letramento. Por que, o que é o letramento? São as práticas de leitura e de escrita. Uma coisa é aprender sistema de escrita, para poder ler e escrever. Mas isso não resolve o problema da entrada no mundo da escrita. É preciso saber fazer uso disso, saber escrever uma carta, saber escrever uma história, saber escrever uma fábula, um convite, etc. Mas fazer isso numa situação contextualizada, saber para quem eu estou escrevendo, porque estou escrevendo, tendo motivação para escrever. O papel da professora, da escola, é criar essas situações que permitam esse desenvolvimento da alfabetização e do letramento articulados e, ao mesmo tempo, indissociáveis. Eu acho que essa é a síntese que nós conseguimos fazer agora. Nós tivemos um período em que ensinávamos o "beabá", para depois a criança praticar isso. Depois passamos por um período, que foi a época do construtivismo, em que esse "beabá" foi desprezado, de certa forma, foi marginalizado como um subproduto do letramento, ou seja, do convívio da criança com o material escrito. Acho que agora nós chegamos ao momento da síntese, que não é isto ou aquilo, são as duas coisas ao mesmo tempo, articuladas, embora cada uma com a sua especificidade quanto à metodologia de trabalho.
Disponível em: http://tvbrasil.org.br/saltoparaofuturo/entrevista.asp?cod_Entrevista=57Entrevista da Magda Soares

Um comentário:

  1. PROVOCANDO...

    João Batista de Oliveira, presidente do Instituto Alfa e Beto, diz em entrevista ao JB (http://alfaebeto.org.br/EntrevistaJB20100401.pdf)
    "O processo de aprendizagem
    da leitura – o processo de alfabetização – requer que a criança (vale também para
    adultos) desenvolva a capacidade de decodificar e, por meio da leitura repetida de
    palavras, desenvolver a capacidade de identificar automaticamente as palavras. Ou seja,
    a leitura repetida acaba formando no cérebro os padrões ortográficos que permitem à
    criança ler uma palavra de uma vez, sem precisar decodificar. Mas isso não basta – pois
    precisamos ler textos conectados, e não apenas listas de palavras. Para isso, é necessário
    desenvolver textos com características morfológicas e sintáticas especificas. Nos
    estágios iniciais da alfabetização, os textos devem usar apenas palavras que a criança
    consegue decodificar, e, eventualmente, uma ou outra palavra que ela já consegue
    identificar automaticamente. Mas cuidado: não estou falando de palavras que a criança
    decorou, como o seu nome ou a palavra Coca Cola. Estamos falando de palavras que a
    criança já lê automaticamente por que antes as leu usando as regras da decodificação. É
    inevitável, portanto, que a estrutura sintática desses textos também seja muito simples.
    São textos curtos, com frases curtas e palavras muito simples. Sem o desafio da
    semântica, a criança pode concentrar toda a sua atenção na leitura conectada do texto."

    À escola, afinal cabe "letrar" ou "alfabetizar"?

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